segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Todas as cartas de amor


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935 .

3 comentários:

  1. Bela escolha da poesia!

    Agradecida pela visita estou aqui a apreciar seu espaço, adorei...

    Bjs

    Mila

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  2. Adorei o poema. Muito bom.
    Obrigada pela visita. Também voltarei mais vezes (:
    Tenha um feliz 2011.
    Beijos.

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  3. Uau, adorei seu blog, seus pensamentos...
    E quem nunca foi rídiculo nunca viveu.... rs

    Beijos

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Obrigada!